Sempre vivemos na nostalgia do passado. No sonho de uma
idade de ouro… que foi, não é e pensar no futuro nem sequer é uma hipótese
válida.
Da realidade do passado apenas sabemos que era melhor, muito
melhor, feito de gentes e vontades como as não há hoje. Do passado não se vêm
erros nem se retiram lições… naquele tempo é que era! Toda a nossa força e
raça! Fomos grandes! Somos grandes, ostentando as vitoriosas bandeiras de
outrora! Se olhássemos bem talvez verificássemos que apenas ostentamos hastes
carunchosas e destruídas pelos parasitas em que nos tornámos.
Como estamos agora afinal? Mal muito mal! Não há justiça,
porque se estou mal ainda há quem esteja bem… era tirar-lhes tudo e ficar eu
com tudo!
Essa é a nossa noção de justiça: só criticamos a
desigualdade enquanto a balança não pende a nosso favor… Se tiver eu tudo,
porque mereço, porque sou mais pobre e humilde que todos os outros, porque me
esforcei mais, porque tenho família, porque… ah! Se eu estiver bem mais vale
deixar-me no meu confortável lugar, não vá o diabo tecê-las e lança-las, ou
desfiá-las e deixar-me sem roupa, ou simplesmente puxar o tapete sob os meus
pés. Com o diabo não se brinca!
Em todo e qualquer caso, mesmo se o tapete não é persa, ou
se foi roubado, se é pequeno ou gasto, o melhor será deixar-me estar: sei como
estou agora e o que vier ainda pode ser pior… o melhor é deixar-me estar…
Do futuro só sabemos e só queremos saber que poderá ser pior
do que agora. Portanto, o melhor é ter cautela e manter as coisas pelo menos
como agora. “Mais vale um pássaro na mão do que dois a voar”, “quem tudo quer
tudo perde”… a ambição é crime, é defeito! Mesmo que apenas se ambicione um
melhor amanhã para os que virão. Não, quando os de amanhã chegarem eles que se
desenrasquem que ainda devem estar pior que eu! Mas vou morrer e vou, mais vale
viver a vidinha no tapetinho e nem pensar em pôr os pés fora dele!
Ah! Mas nós somos nação e pátria grande! Ninguém é melhor!
Se não fossem os árbitros e as más escolhas de seleccionadores era tudo nosso!
E a gora que ninguém para o Benfica, nem o Porto… o Sporting vai andando mais
fraquito mas sempre temos o outro, o de Braga!
E sabem o que me está mesmo a alegrar? Este sol, este tempo
e a Páscoa aí à porta… Está mesmo de feição para um treino no Algarve para as
férias de Verão. Só tenho de pedir um crédito miraculoso a uma das muitas
Santíssimas Donas Brancas milagreiras que por aí andam. Se não fossem elas…
assim sempre sou pobre mas feliz! Não importa ser pobre desde que se pareça
rico e se vá tendo uma vidinha com estas coisas… afinal é o que levamos daqui!
Se os de amanhã não tiverem nada para levar também não importa, desde que me
deixem ir ao Algarve beber cerveja e comer conquilhas.
Mas não somos só futebol e praia! Não esqueçamos as glórias
desta nobre praia lusitana! O Afonso Henriques, os Descobrimentos, o 25 de
Abril! Como nós não há outros!
Proponho senhores e senhora que ponham um pezinho devagar
devagarinho fora do tapetinho. Proponho que esqueçamos por um momento o que
fomos, que olhemos o agora e que agora façamos algo para os problemas de agora.
Por nós e pelos que virão. Se não houver outra motivação então que seja pelo
Afonso Henriques (que já deve estar a ficar arrependido de ter batido na mãe),
pelo D. Sebastião (que assim é que não volta mesmo) e para que os cravos
vermelhos não tenham sido colhido em vão.