quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Imprecisão

A imprecisão de tudo o que vivemos...

Meticulosos pormenores que lembro são os de memórias não locáveis. 
Os melhores momentos que penso ter vivido, os que ligam interruptores de luz clara e alegre, de amperes de partilha e de corrente de contacto do meu corpo e de outros corpos, são fotos foscas, desfocadas, de maus fotógrafos caseiros, sem definição.
As horas maiores da linha vivida amontoam-se em momentos sós e pacientes, vagos e nulos afazeres. De sentares paralisados e pensares e sonhares abandonados e logo esquecidos.
Aos maus momentos recordo com a aspereza visual de uma imagem em alto contraste. São os momentos que nos assaltam quando não conseguimos dormir e nos roem a paciência e cavam valas negras sob os olhos.
O que é bom é claro de mais para ver pormenor, o que é mau tem traços marcados de mais e faz doer a vista. O que é indiferente e aborrecido e chato é tudo e tudo igual.

É então que penso no que sou, no que são e do que são feitos os homens.

Pilhas de tempo passado, gasto, desperdiçado aos montes pela casa como novelos de cotão.
Recordações construídas no diálogo com os outros e reconstruídas uma e outra vez, pastiche de vidas passadas, vidas fictícias e vidas narradas a que nos agarramos como sendo tudo o que temos. 
As memórias construídas têm o sabor doce e palpável de uma goma dura e concreta que se demora na boca enquanto não a decidirmos roer. As memórias reais não as recordo com precisão, mas parecem ser o doce mais doce e fugaz do algodão doce que, mal nos satisfaz, se esvai e que tentamos voltar a recuperar fiada a trás fiada de nuvem cor-de-rosa. 

Se sou o que lembro, sou uma personagem. Somos todos... 
Serei uma personagem imprecisa como o que lembro do que vivi, talvez. Mas envergo a máscara da personagem que construo em paralelo com as memórias que lapido a cada ano, cada dia, cada minuto que acumulo involuntariamente à existência.

É por isso que gosto de sonhar, seja que sonho for, dos sonhos que temos quando dormimos, ou quando lê-mos ou quando estamos à espera de alguma coisa. Ao acordar de um sonho, tenho moldada uma nova máscara e posso partir a velha e vestir a nova e ser alguém diferente a cada momento e viver mil vidas para além da imprecisão da minha.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Postais de Natal









Olhando as decorações de Natal através da máquina fotográfica, apercebo-me de estas são símbolos. Cada peça conta uma história, acorda uma memória. O poder dos símbolos está no que fazem cada um sentir. Estes são símbolos poderosos e o Natal é família. 

sábado, 12 de novembro de 2011

The reason why everybody should read

"A reader lives a thousand lives before he dies.The man who never reads lives only one." Jojen [George R. R. Martin], A dance with dragons (2011)

domingo, 23 de outubro de 2011

Autumn... Just a thought.

Finally I can say: the winter is coming!
And I love the boots, the long coats, the gloves, the young rain, the naughty wind, the mature leaves leaving the trees like butterflies... I even forgive the seagulls fleeing from the ocean's tempest!
And I'm happy. And I know that the summer will return, wich makes me smile.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Pós-tempo

Um excesso de carros
Um excesso de motores
De máquinas
De baulho...

Acabou o tempo do deus autómato
Agora que o próprio autómato é o homem
E que consigo tudo
E que tenho tudo

Mas todos querem o que quero
E todos conseguem o que alcanço

Fujo do universal
Vejo-me em cada esquina
Reconheço-me em cada sonho
Não quero mais isto!
Quero sair desta massa somada de indivíduos
E construir um manufacturado e artesanal eu

Há excesso de conhecimento
Há excesso de personalidade
Há excesso de certeza
Há excesso de tudo!

Este tempo em que o Homem se tornou homem faz dores de cabeça...
É desesperante
Este tempo em que a História são as histórias
E o povo são os vilões heróis

Quero ser nada no muito
Dissolver-me num infinito e ser-me com outros.

(Fica assim justificada a nostalgia dos tempos outros que não conheci)

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Viva Portugal!


Sempre vivemos na nostalgia do passado. No sonho de uma idade de ouro… que foi, não é e pensar no futuro nem sequer é uma hipótese válida.

Da realidade do passado apenas sabemos que era melhor, muito melhor, feito de gentes e vontades como as não há hoje. Do passado não se vêm erros nem se retiram lições… naquele tempo é que era! Toda a nossa força e raça! Fomos grandes! Somos grandes, ostentando as vitoriosas bandeiras de outrora! Se olhássemos bem talvez verificássemos que apenas ostentamos hastes carunchosas e destruídas pelos parasitas em que nos tornámos. 

Como estamos agora afinal? Mal muito mal! Não há justiça, porque se estou mal ainda há quem esteja bem… era tirar-lhes tudo e ficar eu com tudo!
Essa é a nossa noção de justiça: só criticamos a desigualdade enquanto a balança não pende a nosso favor… Se tiver eu tudo, porque mereço, porque sou mais pobre e humilde que todos os outros, porque me esforcei mais, porque tenho família, porque… ah! Se eu estiver bem mais vale deixar-me no meu confortável lugar, não vá o diabo tecê-las e lança-las, ou desfiá-las e deixar-me sem roupa, ou simplesmente puxar o tapete sob os meus pés. Com o diabo não se brinca!
Em todo e qualquer caso, mesmo se o tapete não é persa, ou se foi roubado, se é pequeno ou gasto, o melhor será deixar-me estar: sei como estou agora e o que vier ainda pode ser pior… o melhor é deixar-me estar… 

Do futuro só sabemos e só queremos saber que poderá ser pior do que agora. Portanto, o melhor é ter cautela e manter as coisas pelo menos como agora. “Mais vale um pássaro na mão do que dois a voar”, “quem tudo quer tudo perde”… a ambição é crime, é defeito! Mesmo que apenas se ambicione um melhor amanhã para os que virão. Não, quando os de amanhã chegarem eles que se desenrasquem que ainda devem estar pior que eu! Mas vou morrer e vou, mais vale viver a vidinha no tapetinho e nem pensar em pôr os pés fora dele! 

Ah! Mas nós somos nação e pátria grande! Ninguém é melhor! Se não fossem os árbitros e as más escolhas de seleccionadores era tudo nosso! E a gora que ninguém para o Benfica, nem o Porto… o Sporting vai andando mais fraquito mas sempre temos o outro, o de Braga!
E sabem o que me está mesmo a alegrar? Este sol, este tempo e a Páscoa aí à porta… Está mesmo de feição para um treino no Algarve para as férias de Verão. Só tenho de pedir um crédito miraculoso a uma das muitas Santíssimas Donas Brancas milagreiras que por aí andam. Se não fossem elas… assim sempre sou pobre mas feliz! Não importa ser pobre desde que se pareça rico e se vá tendo uma vidinha com estas coisas… afinal é o que levamos daqui! Se os de amanhã não tiverem nada para levar também não importa, desde que me deixem ir ao Algarve beber cerveja e comer conquilhas.
Mas não somos só futebol e praia! Não esqueçamos as glórias desta nobre praia lusitana! O Afonso Henriques, os Descobrimentos, o 25 de Abril! Como nós não há outros! 

Proponho senhores e senhora que ponham um pezinho devagar devagarinho fora do tapetinho. Proponho que esqueçamos por um momento o que fomos, que olhemos o agora e que agora façamos algo para os problemas de agora. Por nós e pelos que virão. Se não houver outra motivação então que seja pelo Afonso Henriques (que já deve estar a ficar arrependido de ter batido na mãe), pelo D. Sebastião (que assim é que não volta mesmo) e para que os cravos vermelhos não tenham sido colhido em vão.

segunda-feira, 28 de março de 2011

Sufoco (poema)

Busco o ar,
Um ténue sopro que seja...

Movo-me frenéticamente
Desesperadamente procurando

E se abrir os olhos?

Vejo os limites, as saídas, os caminhos.
Precorro-os...
Tento mas os pés não descolam

Verifico as asas. Estão cá.
E se voar?

Olho céu...
Não o há.

Um pano pardo e sem cor,
Demasiado quente e ausente,
Uma miragem de paisagem desértica...
Um espelho que olho
De onde me olham...

Grito,
Não sai som.
Respiro fundo,
Não entra ar.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Regressando à prosa...

Após uns meses de dedicação exclusiva à poesia tomei duas decisões:
1. Descansar a poesia durante uns tempos. Uma pausa é o melhor a fazer quando nos deixamos de sentir minimamente originais.
2. Dedicar-me à prosa, não só por vontade própria como a pedido de várias famílias.

Segue-se o pequeno texto de transição.

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Cansei-me de escrever
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Fartei-me.

[E que forma tão original de começar isto, sendo isto qualquer coisa que virá a ser ou que promete ser, se algo promete.]

Cansei-me, exauri-me… Não metaforicamente falando, com nem sequer um único pingo de ironia, remetendo-me à pura constatação dos factos sensórios: sempre que escrevo enjoo.
Não enjoo o acto em si, não enjoo o deus do acto, a que chamam literatura, não enjoo os objectivos… enjoo o meu estilo de escrita, ou falta dele; as gastas e enfadonhas expressões a que recorro, e se não as escrevi antes já as pensei tantas vezes que me parecem lugares comuns; da minha falta de rumo, parecendo que só sei escrever se não tiver objectivo ou tema, assim como um vómito de palavras tortas que de escrever direito não têm nada; canso a falta de vocabulário e a insistência ou tendência natural para utilizar a primeira pessoa, e esta se não gramatical pelo menos intencional.
A solução é simples dirão, e também eu o disse: deixa de escrever. Deixei.
Como diz o povo saiu-me o tiro pela culatra e há falta de enjoos vieram as horas desesperadamente vazias a contrastar com as outras desesperadamente preenchidas de dúvidas da existência. Perdeu-se-me o equilíbrio.
Pois ora aqui estou a escrever. Decidi-me a escrever o que sai da máquina que escreve na minha cabeça, a seguir o que me manda essa máquina e a não querer saber. Acima de tudo, a não querer saber. Portanto, perante algum problema caro leitor deposite as culpas nessa dita máquina.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Balanço do lançamento

Caros amigos, nas últimas horas utilizei mais vezes uma palavra do que já a havia utilizado ao longo de 21 anos. Podia cansar-me... mas a verdade é que ela expressa rigorosamente e verdadeiramente o que sinto.

A todos os que foram ao lançamento, aos que queriam ir e não puderam, aos que me ajudaram a concretizá-lo, aos que de algum modo contribuíram para que nunca deixasse de escrever, à família, aos amigos, aos futuros amigos e à futura família: OBRIGADA!

Aproveito ainda para solicitar críticas! como disse ontem, a maior vantagem de ter algo publicado é poder receber críticas para através delas progredir.

Ficam aqui algumas fotos da fotógrafa de serviço: Catarina Costa.

Um até já!







sábado, 12 de fevereiro de 2011

Tudo e Nada - Lançamento de livro


Caros amigos,
O sonho tornou-se real! Vou lançar um livro de poesia.
Inicialmente uma compilação apressada, depois um algo mais coeso preenchido por novas criações... Resultou um Tudo e Nada. O paradoxo mais uma vez dominado o ser... o meu ser sem dúvida! Mas o ser de todo o homem. Ser humano é ser ilógico, confuso, paradoxal, contraditório... ser por natureza perdido e ter uma necessidade quase vital de se encontrar. Espero que alguém se encontre nas páginas que escrevi, é essa, de facto, a minha dedicatória e o meu maior anseio.
O lançamento do dito terá lugar no belíssimo Café de Santa Cruz em Coimbra, pelas 21h30, ao dia 22 de Fevereiro.
A presença de qualquer um que queira aparecer será uma honra!
Espero encontrar-te em breve.

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Por agora, o livro pode ser adquirido através dos seguintes meios:
  • Internet (em formato clássico ou em Ebook) 
  • Corpos Livraria/Café 
  • Na sessão de lançamento

Questão

Tudo e nada: o que cabe aqui?