Adoro dias assim.
Adoro chuva.
Nunca percebi porquê. Hoje sei. A chuva vem e lava as
preocupações, deixa o pensar mais claro e limpo. Apaga a poeira e os limites e
deixa-me sonhar livremente.
Transporta-me por aí, por onde quero, por todo o lado.
E o belo cantar da chuva enche os meus ouvidos por inteiro,
abafa os ruídos, faz esquecer o que é a mais.
E no silêncio do que não interessa a alma fica leve e os
cantos da boca elevam-se. O som da chuva faz-me sorrir por retirar o peso do
excesso do dia-a-dia.
E a visão da água, das gotas enfileiradas, seguidas e
rápidas faz-me sentir em casa. E os meus olhos misturam-se com as gotas pelo
reconhecimento do lar.
E as cores são mais belas, mais intensas, mais puras. A luz
ilumina de outro modo e o mundo deixa de ser uma impressão para ser algo mais
concreto cuja contemplação se merece prolongar num tempo que não cansa.
Quando chove permito-me parar. Parar a olhar, a ouvir, a
sentir.
A chuva deixa-me ser quem sou sem fronteiras, deixa-me abrir
a janela, saltar dela e dançar em rodopios sem gravidade que me pare ou limite.
A chuva deixa-me sonhar sem culpa.