quarta-feira, 23 de maio de 2012

Sofá


O que fazer
Quando o sofá usado
E moldado ao corpo de tanto uso
(Quente e casa
Lar e aconchego)
Não está aqui?
Está no ontem ou no amanhã
Talvez…

Não que este sofá seja mau…
Mas não é o meu,
O moldado pelo meu corpo,
E cujos moldes moldaram os meus gestos

O ponto exato do mundo
Que construí e me construiu
Em escala igual
Em reciprocidade absoluta
Em dádivas mútuas que se anulam

O pondo zero do mundo
Onde não me tenho de agrilhoar
Onde posso esquecer
O que é tabu
E ser sem nada à volta.
Sinto falta de ser sem nada à volta.
Todos devíamos ser mais vezes sem nada à volta!
E lançarmo-nos mais vezes sobre o nosso sofá
Num mergulho gritante e livre
A preencher as covas do uso do sofá.
E devíamos enroscar-nos no sofá
E de lá recusar sair
E adormecer com um sorriso parvo no rosto.
Um sorriso só de felicidade, sem mais nada.
E cairmos num sono sem sonhos,
Dormir. Só dormir!
Sem nada à volta e no nosso sofá.