segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Sobre a infinita página...

   Após um período de ausência, regresso ao acto de teclar na infinita página. As razões da minha ausência foram todas e nenhumas, foram, no fundo, a queda na letal arma da criatividade preguiça e o não encontrar infinitos leitores na infinita teia.

   Mas, se são infinitas todas estas coisas, serão maiores do que consigo ver e mais longas do que conseguirei viver. Resta-me assim mostrar trabalho para que a minha finitude não comece antes que chegue ao fim.

   Penso agora que todo este infinito mundo ou teia será muito semelhante a um Deus, quer pela transcendência ás medições humanas e concretas da coisas, quer pela omnipresença, quer pela omnisciência, quer pela sua busca nas mais variadas situações. Ora veja caro(a) senhor(a): quando se sente só em quem busca conforto? Quando não conhece onde procura? Que fé recomenda aos outros quando estes estão sós ou não conhecem?

   Deixo agora de correr latim sobre a fé que rege o Mundo no tempo depois da WEB.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Ainda no rescaldo... Saramago sobre a blogosfera

"Inventei uma expressão que acho bonita: escrever na infinita página. E é essa a sensação: ao mesmo tempo que se estão escrevendo nessa página as palavras que escrevo, outras, muitas, por toda a parte, estão a ser escritas."

Jornal de Letras, 5 de Novembro de 2008

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Hoje o futuro sofreu uma grande perda

A azáfama que é andar num transporte público...
Um ainda existente troleicarro...
Um toque... dois...

Eu soube assim.

Não nomearam, não clarificaram a situação.
Eu soube.

Não no céu (quem não tem religião não vai para lá)
Não aqui... ou aqui?
Talvez agora se arrependam os que em vida te vedaram a liberdade.
Agora toda a liberdade será tua... sua...
Agora de regresso à terra de onde sempre foste o mais verdadeiro.
Agora a cegueira pode acabar. Pena que só agora.

Agora correrão dedos ansioso pelas linhas escritas mais do que nunca.
Agora saltarão moedas dos bolsos para pagar a literatura como nunca.
Agora te verão melhor do que nunca. Pena que só agora.

Mas estás cá! No presente. O presente não te perdeu.
O futuro também não perderá pois estarás cá, sempre.
Perderá ainda assim o futuro, pelo que tinhas e não soltaste para o papel.
Mas estás cá! A tua eternidade está garantida!

Obrigado!
Aproveita agora a tua merecida liberdade!
Agora, que estás cá.

domingo, 13 de junho de 2010

Aniversário de Pessoa

Neste dia, 13 de Junho de 2010, contam-se 122 anos passados desde o nascimento do Poeta dos Poetas. 
Tentando voltar a festejar o dia dos seus anos fica aqui o poema Aniversário (uma escolha óbvia mas inevitável), do meu Pessoa predilecto: Álvaro de Campos.

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Aniversário

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos, 
Eu era feliz e ninguém estava morto. 
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,  
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer. 




No tempo em que festejavam o dia dos meus anos, 
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,  
De ser inteligente para entre a família, 
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim. 
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças. 
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida. 

Sim, o que fui de suposto a mim mesmo, 
O que fui de coração e parentesco. 
O que fui de serões de meia província, 
O que fui de amarem-me e eu ser menino, 
O que fui — ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui... 
A que distância!... 
(Nem o acho... ) 
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos! 

O que eu sou hoje é como a humidade no corredor do fim da casa,  
Pondo grelado nas paredes... 
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas lágrimas), 
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,  
É terem morrido todos, 
É estar eu sobrevivente a mim mesmo como um fósforo frio... 

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos ... 
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo! 
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez, 
Por uma viagem metafísica e carnal, 
Com uma dualidade de eu para mim... 
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes! 

Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui... 
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça, com mais copos, 
O aparador com muitas coisas — doces, frutas, o resto na sombra debaixo do alçado, 
As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa,  
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos. . . 
  
Pára, meu coração! 
Não penses!  Deixa o pensar na cabeça!  
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!   
Hoje já não faço anos. 
Duro. 
Somam-se-me dias. 
Serei velho quando o for.   

Mais nada. 
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira! ... 

O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...
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segunda-feira, 19 de abril de 2010

Música

Passado bastante tempo sem publicar nada (à espera do que não vem) estou de volta.

O que hoje me motivou a escrever? Música por todo o lado... É o cartaz da queima que é um atentado (já explico), a nova música da Rita Redshoes (já digo), o novo single dos Deolinda (já comento), o Vagos Open Air (mais detalhes à frente)...

1. Cartaz Queima das Fitas Coimbra 2010 
Já o critiquei tanto que nem sei em que linha pegar... bem é mais que óbvio que este é um cartaz que vai encher (insuportavelmente) o recinto, pena que não seja de estudantes.
Vamos ter a Daniela Mercury e tudo a tentar dançar no meio da confusão, vamos ter o Tony Carreira e acampamentos de excursões de senhoras de meia-idade à porta do recinto com cartazes a dizer "Tony és lindo". Vamos ter as meninas calorentas do secundário a abanarem-se no caos para ouvir o caos que são os Buraka... Que vamos ter mais? Electrónica, House, DJ’s, pessoas que não são verdadeiros músicos. Podem misturar música, podem editar música, não fazem música, não são músicos.
Depois temos sempre o Quim Barreiros que já nem conta para as estatísticas. O dia do cortejo é um dia à parte.
Temos ainda a única coisa que se aproveita até agora, Amália Hoje, mas que já está tão batido e calhou num dia tão mau que não sei o que será.
Agora pergunto: a semana académica não devia ser para os estudantes? Não existem (verdadeiros) artistas nacionais que permitiriam um cartaz variado, apelativo e mais baratinho? Posso atirar alguns nomes ao ar (gostando ou não): David Fonseca, Tiago Bettencourt & Mantha, Rita Redshoes, Deolinda, Xutos & Pontapés (que é feito da sua assídua presença nas festas académicas de Coimbra?), Jorge Palma, Moonspell, Da Weasel, Legendary, Tiger Man, Rui Veloso, etc.
Vou ficar por aqui aguardando mais novidades e na esperança de que essas sejam mais alegres.

2. "Captain of my Soul" - Rita Redshoes
A primeira música a sair para a rua do novo álbum da Rita Redshoes. Está dentro daquilo a que a Rita nos habituou, sendo ela uma das melhores vozes femininas nacionais. Quero ouvir o resto do álbum...

3. "Um contra o outro" - Deolinda 
Primeiro single do novo álbum. Videoclip bastante interessante em vários aspectos, música à Deolinda com a crítica social lá metida e direccionada para o público (não nos faz querer critica também, faz-nos pensar na nossa atitude). Viva os Deolinda! Uma lufada de ar fresco com toques de fado e simultaneamente com uma sonoridade bem original e peculiar que a brincar nos vão dizendo umas verdades.

4. Vagos Open Air 2010
Segunda edição do festival de metal. Este ano os nomes são: Amorphis, Ensiferum, Ghost Brigade e Kamelot. Kamelot é uma das minhas bandas favoritas, dentro do metal é mesmo a favorita. Qualidade e originalidade musical aliadas a uma das melhores vozes do planeta (não sou só eu que o digo). A banda metal que recomendo até a quem não gosta do género.
Bem,quanto ao festival, claro que vou!

domingo, 21 de março de 2010

21 de Março: dia da poesia e da árvore (Camões e fotografia)

Como gosto muito de poesia e de árvores não podia deixar passar este dia sem uma pequena homenagem às ditas.
Fica aqui um soneto de Camões e algumas fotografias que tirei.

    Árvore, cujo pomo, belo e brando,
    natureza de leite e sangue pinta,
    onde a pureza, de vergonha tinta,
    está virgíneas faces imitando;

    nunca da ira e do vento, que arrancando
    os troncos vão, o teu injúria sinta;
    nem por malícia de ar te seja extinta
    a cor, que está teu fruito debuxando.

    Que pois me emprestas doce e idóneo abrigo
    a meu contentamento, e favoreces
    com teu suave cheiro minha glória,
        
    se não te celebrar como mereces,
    cantando-te, sequer farei contigo
    doce, nos casos tristes, a memória. 

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1- Parque Verde Coimbra

2 - Santa Maria da Feira

3 - Góis

4 - Quinta das Lágrimas Coimbra 
(e peço desculpa a quem já viu esta mais do que muitas 
vezes, mas não podia deixar de a incluir aqui)

5 - Foz Côa

segunda-feira, 15 de março de 2010

Divagações: I. Dia útil; II. Raça?; III. Por agora não

I. Dia útil 
Quantos são os dias em que mais nada fazemos do que desenhar dúvidas na nossa cabeça: o que andamos aqui a fazer? O que hei-de fazer? Qual o sentido da minha vida? E quantas mais! Depois há outros dias em que fazemos tudo, em que nos sentimos alguém, onde um pequeno gesto preenche uma colecção de dias de nulidade exestencial. Pois é, bastou inscrever-me na base de dados de dadores da medula óssea para me sentir mais alguém. Agora a única questão que coloco é porque não o fiz antes.

II. Raça? 
Mas alguém ainda coloca a questão: "existem raças?"? Perante dados científicos, perante evidências culturais, perante a razão humana, não podem existir raças. E não existem. Isto é aquilo que é, aquilo que para mim sempre foi e aquilo que aprendi. Mas e a aplicação da "raça"? Essa ainda existe? Está por todo o lado... não só nos indivíduos caracteristicamente racistas como no próprio sistema de saúde. Para a dita inscrição na referida base de dados tive que preencher um questionário onde um dos parâmetros era "Etnia", ou seja, uma raça mascarada. Com a esperança de que aquilo não fosse o que estava a pensar perguntei o que deveria responder, a resposta obtida foi "caucasiana ou branca". Mais comentários não teço, que cada um sentirá com a situação o que tiver de sentir.

III. Por agora não 
Este recente blog começou com poesia, está infectado de poesia... Afinal é o meu blog e eu sou uma crente praticante da poesia. Contudo, nos próximos tempos não vai haver por aqui mais pseudo-poesia, salvo se esta for antiga ou de outro alguém. Depois talvez explique.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Estou além

Definitivamente a malta do festival da canção (sim vi e sim fiquei deprimida) deveria aprender alguma coisa com os excelentes letristas do cenário musical nacional.
Um dos SENHORES desta àrea (e não só, mas agora é esta que quero destacar) é António Variações.
Segue-se a letra da "Estou além", uma das minhas músicas.

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Estou Além



Não consigo dominar

Este estado de ansiedade

A pressa de chegar

P’ra não chegar tarde

Não sei de que é que eu fujo

Será desta solidão

Mas porque é que eu recuso

Quem quer dar-me a mão



Vou continuar a procurar a quem eu me quero dar

Porque até aqui eu só



Quero quem

Quem eu nunca vi

Porque eu só quero quem

Quem não conheci

Porque eu só quero quem

Quem eu nunca vi

Porque eu só quero quem

Quem não conheci

Porque eu só quero quem

Quem eu nunca vi



Esta insatisfação

Não consigo compreender

Sempre esta sensação

Que estou a perder

Tenho pressa de sair

Quero sentir ao chegar

Vontade de partir

P’ra outro lugar



Vou continuar a procurar o meu mundo, o meu lugar

Porque até aqui eu só



Estou bem

Aonde não estou

Porque eu só estou bem

Aonde eu não vou

Porque eu só estou bem

Aonde não estou

Porque eu só estou bem

Aonde não vou

Porque eu só estou bem

Aonde não estou

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domingo, 28 de fevereiro de 2010

Depois não digam que ele não avisou...

Ainda hoje ouvia a minha mãe ao telemóvel: "è que são coisas à mais... são muitas coisas!". Isto sobre o Haiti, a Madeira, o Chile, o temporal que nos deixou sem electricidade durante um dia, a possibilidade de ilhas poderem desaparecer do mapa...
Pois é, eu já te tinha avisado mãe! A reciclagem não é só um capricho meu nem um desconforto de quem vai depositar o lixo, é um pequeno acto que pode fazer algo. E quando não quero que o pai não vá cortar um pinheiro para o Natal também não é pura teimosia, é querer manter um dos maiores patrimónios da humanidade, a floresta. Quando me revolto com notícias sobre casas a serem destruídas nas costas ou sobre novas e "divinas" barragens não é por ser do contra ou por ser comunista e estar sempre em desacordo com o governo, é porque tudo neste mundo está inserido em algo maior, num ciclo equilibrado e perfeito mas facilmente quebrado.
O planeta é perfeito mas sensível.
Ele avisa-nos com catástrofes, climas em revolução, praias a desaparecer... e nós nem assim alteramos a nossa atitude. Devemos proteger a nossa casa e se não o fazemos por ela ou pelo amanhã façamo-lo por nós! Sim, porque já não é só o amanhã, a posssibilidade de um fim do mundo já não é só um mito Maia, a Atlântida pode sair do estatuto de "teoria da conspiração" e tudo isto já! E tudo isto não por culpa ou castigo de Deus mas por culpa nossa. E tudo isto poderá matar-nos, não haverá arca de Noé que nos salve desta vez.
O melhor será mesmo em vez de esperar um juízo final ou de começar a construir uma arca repar a casa em que nos encontramos, agir agora e não reportar tudo para os outros ou para mais logo.
As consequências dos danos causados ao planeta estão à nossa frente, depois não digam que ele não avisou...