quinta-feira, 22 de março de 2012

Saudade


Falta um pouquinho em mim
Um pouquinho tão pequeno que nem
Rebuscando tudo lhe sei pintar a face
Mas as roldanas movem-se a esforço
E a labuta é feita sem vontade

Um pouquinho…
E sou menos o que fui
E todos são menos o que foram

Um pouquinho e o tempo voa
As voltas dos ponteiros acumulam-se
E cada nova volta é mais um rodopio
Somado a esta dança sem lamentos
E sem música

Nem tonta,
Nem aqui,
Sem sorriso,
Sem lágrima

O olhar voltado para luz que aí vem
Para as escassas alvoradas
Que permitem o rodar das roldanas

Vão rodando, rodando…
Movidas só pelas manhãs

Falta um pouquinho
Cuja face não sei pintar
E as roldanas já não cantam enquanto rodam…

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

A raposa, feriados e férias

*
- O que é um ritual? - disse o principezinho.
- Também é uma coisa de que toda a gente se esqueceu - disse a raposa. - É o que torna um dia diferente dos outros dias e uma hora diferente das outras horas. Por exemplo, os meus caçadores têm um ritual. À quinta-feira. vão dançar com as raparigas da aldeia. Por isso, a quinta-feira é um dia maravilhoso. Eu posso ir passear às vinhas. Se os caçadores fossem dançar num dia qualquer, os dias eram todos iguais uns aos outros e eu nunca tinha férias.
                                                                            Antoine de Saint-Exupéry, O Principezinho

Ora, com o fim de quatro feriados, mais quatro dias ficam iguais aos outros e, somando 3 dias a estes quatro, a raposa também fica com muito menos tempo de férias.




quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Imprecisão

A imprecisão de tudo o que vivemos...

Meticulosos pormenores que lembro são os de memórias não locáveis. 
Os melhores momentos que penso ter vivido, os que ligam interruptores de luz clara e alegre, de amperes de partilha e de corrente de contacto do meu corpo e de outros corpos, são fotos foscas, desfocadas, de maus fotógrafos caseiros, sem definição.
As horas maiores da linha vivida amontoam-se em momentos sós e pacientes, vagos e nulos afazeres. De sentares paralisados e pensares e sonhares abandonados e logo esquecidos.
Aos maus momentos recordo com a aspereza visual de uma imagem em alto contraste. São os momentos que nos assaltam quando não conseguimos dormir e nos roem a paciência e cavam valas negras sob os olhos.
O que é bom é claro de mais para ver pormenor, o que é mau tem traços marcados de mais e faz doer a vista. O que é indiferente e aborrecido e chato é tudo e tudo igual.

É então que penso no que sou, no que são e do que são feitos os homens.

Pilhas de tempo passado, gasto, desperdiçado aos montes pela casa como novelos de cotão.
Recordações construídas no diálogo com os outros e reconstruídas uma e outra vez, pastiche de vidas passadas, vidas fictícias e vidas narradas a que nos agarramos como sendo tudo o que temos. 
As memórias construídas têm o sabor doce e palpável de uma goma dura e concreta que se demora na boca enquanto não a decidirmos roer. As memórias reais não as recordo com precisão, mas parecem ser o doce mais doce e fugaz do algodão doce que, mal nos satisfaz, se esvai e que tentamos voltar a recuperar fiada a trás fiada de nuvem cor-de-rosa. 

Se sou o que lembro, sou uma personagem. Somos todos... 
Serei uma personagem imprecisa como o que lembro do que vivi, talvez. Mas envergo a máscara da personagem que construo em paralelo com as memórias que lapido a cada ano, cada dia, cada minuto que acumulo involuntariamente à existência.

É por isso que gosto de sonhar, seja que sonho for, dos sonhos que temos quando dormimos, ou quando lê-mos ou quando estamos à espera de alguma coisa. Ao acordar de um sonho, tenho moldada uma nova máscara e posso partir a velha e vestir a nova e ser alguém diferente a cada momento e viver mil vidas para além da imprecisão da minha.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Postais de Natal









Olhando as decorações de Natal através da máquina fotográfica, apercebo-me de estas são símbolos. Cada peça conta uma história, acorda uma memória. O poder dos símbolos está no que fazem cada um sentir. Estes são símbolos poderosos e o Natal é família. 

sábado, 12 de novembro de 2011

The reason why everybody should read

"A reader lives a thousand lives before he dies.The man who never reads lives only one." Jojen [George R. R. Martin], A dance with dragons (2011)

domingo, 23 de outubro de 2011

Autumn... Just a thought.

Finally I can say: the winter is coming!
And I love the boots, the long coats, the gloves, the young rain, the naughty wind, the mature leaves leaving the trees like butterflies... I even forgive the seagulls fleeing from the ocean's tempest!
And I'm happy. And I know that the summer will return, wich makes me smile.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Pós-tempo

Um excesso de carros
Um excesso de motores
De máquinas
De baulho...

Acabou o tempo do deus autómato
Agora que o próprio autómato é o homem
E que consigo tudo
E que tenho tudo

Mas todos querem o que quero
E todos conseguem o que alcanço

Fujo do universal
Vejo-me em cada esquina
Reconheço-me em cada sonho
Não quero mais isto!
Quero sair desta massa somada de indivíduos
E construir um manufacturado e artesanal eu

Há excesso de conhecimento
Há excesso de personalidade
Há excesso de certeza
Há excesso de tudo!

Este tempo em que o Homem se tornou homem faz dores de cabeça...
É desesperante
Este tempo em que a História são as histórias
E o povo são os vilões heróis

Quero ser nada no muito
Dissolver-me num infinito e ser-me com outros.

(Fica assim justificada a nostalgia dos tempos outros que não conheci)